Segundo a Agência Brasil, no ano de 2020,
os brasileiros lideraram a lista de títulos de
residência em Portugal. Foram mais de 41,99 mil vistos
Na história de hoje, iremos conhecer a experiência da Mauriceia Djalma e sua família em Portugal. A mineira retornou ao Brasil há seis anos com seu marido e sua filha, após 9 anos no país.
Mauriceia contou sobre sua trajetória e experiências e aproveitou para fazer um alerta.
"Aconselho quem for não confiar em ninguém e levar euro suficiente. A nossa sorte foi que levamos, se não eu não sei o que seria de nós". De acordo com Mauriceia, muitos portugueses têm padrões de ideias preconceituosas sobre o imigrante brasileiro.
"Na cabeça deles todo brasileiro é burro, eles acham que estamos passando fome no Brasil, por isso vamos para lá".
O que te levou a morar em Portugal e por quanto tempo permaneceu por lá?
O que me levou a morar em Portugal foi por que estávamos insatisfeitos aqui no Brasil, família se intrometendo demais em nossas vidas, queríamos paz, sossego, viver somente nós.
Como é Portugal para o brasileiro que não é legalizado, e qual era a situação de sua família no país?
Em relação a brasileiro não está legalizado em Portugal é um pouco complicado, por quê? Porque por mais que ele tenha estudo, curso superior, terá que se sujeitar a trabalhos que nunca exerceu aqui no Brasil e querendo ou não somos discriminados sim. E para legalizar a gente tem que conseguir um contrato de três meses e renová-lo a cada outros três, até conseguir a legalização. E a gente acaba perdendo muita coisa, né? Porque o país, o governo, ele dá muita oportunidade para pessoas que são legalizadas e a gente (não legalizado), acaba sofrendo preconceito por parte dos portugueses, não todos, mas a maioria. E estão correndo o risco também de ser deportado. O brasileiro lá que não é legalizado, ele pode sim ser deportado. Então é muito importante ir para lá legalizado ou quando estiver em Portugal, correr atrás da validação.
Mauriceia conta que ao chegarem em Portugal, ela e o marido, já foram atrás de pôr a documentação em dia.
Em relação a nossa vida lá em Portugal, assim que nós chegamos, eu e o Gleidson (marido), corremos atrás de legalizar, a gente sempre trabalhou com contrato de trabalho, que é através dele que a gente fica legalizado no país. E a nossa vida em Portugal, financeiramente depois de 3 meses que estávamos lá, passou a ser uma vida confortável. Levávamos um estilo de vida boa. Não éramos aqueles que viviam para economizar, sempre pensamos em morar lá, sabe? Só que aí as coisas mudaram e depois nós viemos embora, mas, a nossa vida lá era boa financeiramente. Passeávamos, comíamos bem, tínhamos um estilo de vida muito boa em Portugal. E para morar lá, é um país muito bom, super aconselho! Não é muito bom, para se juntar dinheiro e construir algo no Brasil, porque eles pagam pouco em relação à outros países, mas para morar é se estabilizar no país, é ótimo!
Na época sua filha tinha 5 anos, e como foi para matricular e o contato com os colegas na escola e outras mães?
Para matricular ela na escola foi super fácil, demorou 2 meses depois que chegamos. A escola lá é de tempo integral, de 7 da manhã, às 17 da tarde, isso facilitou muita coisa. Ela se adaptou bem, eu também me dei muito bem com os professores. Ela tinha aula de inglês, francês, informática, tinha um pequeno almoço (café da manhã), almoço, e lanchava a tarde. Escola pública lá é maravilhosa! Em relação às mães portuguesas, nunca tive amizades, elas são muito fechadas e desconfiadas. Tive amizades com brasileiras mesmo ou imigrantes como nós.
Qual foi o lugar onde morou e quais as diferenças do cotiado que tinha aqui e lá?
Moramos em Setúbal. A diferença é que no Brasil temos hábito de fazer churrasco, convidar amigos, sair com amigos, somos um povo de comemorações e lá os portugueses são mais fechados. Dá 18 horas, cada um na sua casa, não tem essa de vizinho fazer amizades com os outros. Cada um para si.
Quais foram os hábitos que te fizeram falta?
Esse convívio mesmo com vizinhos. Fazer festas, conversar na calçada, ir á casa de amigos, tudo igual fazíamos aqui no Brasil. E as comidas do Brasil também, porque nem tudo achamos lá para comprar.
Você trabalhou em muitas atividades, conte algumas delas.
Eu trabalhei em uma fábrica de salsichas e foi muito engraçado com vários imigrantes, romenos, ucranianos, indianos e cabo-verdenses. Mas a nossa experiência não foi tão boa porque nosso patrão era brasileiro, aí já viu né? Éramos duramente explorados. Trabalhei também em uma estufa, que não gostei porque não levava jeito para plantas (risos), não tinha paciência. Os trabalhos onde me dei bem foram, café (bar) e restaurante, pois como amo conversar, falar, aí eu amava porque conhecia muita gente.
Conte um pouco mais sobre essa exploração que sofreram.
Trabalhávamos 14 horas por dia. Ele atrasava nosso salário, comíamos muito mal, era arroz, feijão e carne de porco todo dia. Não tinha lanche da tarde e na hora de receber, não queria acertar. Ele está sendo procurado pela Receita Federal e está foragido.
Ele fazia isso por conta dos trabalhadores não estarem legalizados?
Ele era pilantra! Fazia com todos imigrantes, ´porque éramos recém chegados, ou seja, sem documentação. Então ele nos explorava! Era exaustivo, entravamos às 6 da manhã e saímos às 17.
Já a experiência do marido de Mauriceia, Gleidson Djalma, foi bem diferente. O primeiro emprego do esposo, foi em um bordel como segurança. Ela nos conta que muitas empresas não aceitam brasileiros que não estejam totalmente legais no país.
A aceitação por estar ilegal dependendo da empresa não aceitam.
Mauriceia também menciona sobre o preconceito de alguns portugueses.
Na cabeça deles, todo brasileiro é burro. Eles acham que estamos passando fome aqui no Brasil e por isso fomos para lá. Não aceitam que podemos ter curso superior. Claro que não são todos, mas a maioria é bem preconceituosa.
Desses trabalhos que você exerceu, algum deles você tinha familiaridade?
Nenhum! E todos os trabalhos que arrumei foram através de conhecidos lá mesmo ou de jornais
E como são os empregadores portugueses, como eles agem com imigrantes?
Cada caso é um caso. Eu só tenho que agradecer aos portugueses como patrões. Me trataram super bem e tenho amizades lá até hoje. Portugueses falam de uma maneira bem direta e não mandam recado.
Você teve algum problema com patrões?
Não, nunca tive! Ao contrário só tenho a agradecer.
Outro dia contamos a história de uma criança brasileira, imigrante, que passou por situações de xenefobia e racismo por ser brasileiro. Já viu ou passou por algo semelhante lá?
Aconteceu comigo sim, de ir comprar alguma coisa e ser tratada com indiferença por ser brasileira, principalmente por outras mulheres. Em Portugal, a maioria das brasileiras são discriminadas, ou seja, elas acham que vamos fazer programas. Infelizmente a realidade é que muitas pessoas aprontam, então os outros pagam.
Tem casos de pessoas que acabaram iludidas?
Vários casos. Uma amiga confiou em uma pessoa para buscá-la no aeroporto, mas a pessoa não foi. A sorte dela é que ela estava com dinheiro e foi para um hotel. Tem casos de dar dó, de brasileiros ficarem na rua porque foram sem dinheiro.
Como foram os seus primeiros dias de adaptação no novo país quando você chegou com sua família? Apesar do país ter a mesma língua, com algumas diferenças, a cultura é bem diferente.
Foi péssima! Para começar quem ficou de nos receber, não nos ajudou. Fomos morar em um quarto, eu, meu marido e minha filha que na época tinha 5 anos de idade. Depois de uma semana, descobri que o local era uma casa de prostituição, ficamos apavorados! Moramos lá um mês e conseguimos alugar uma casa e nos mudamos.
De acordo com a mineira, foi uma das prostitutas desta casa de prostituição, que ajudou o casal a procurar emprego e sinalizou o local onde deveriam se legalizar.
Foi uma das prostitutas desse lugar que nos ajudou a conseguir o primeiro emprego. Apresentaram onde daríamos entrada nos documentos. Eu não entendia nada em relação a língua, foi bem tenso... Só chorava.... Comida diferente, hábitos, nossas foi terrível!
Um dos trabalhos que mais gostou
foi de cozinheira
Você voltaria a morar em Portugal ou em outro país?
Portugal para morar é maravilhoso! O rico aqui é o pobre lá, vivem super bem! Eu voltaria sim, mas não quero como imigrante para trabalhar. Porque quando estamos ilegais é difícil conseguir melhores oportunidades.
Através de Portugal você conheceu outros países. O que você falaria para quem tem o desejo de morar em Portugal?
Conheci sim, porque tudo é muito perto. Eu falaria vai é muito bom!
Mas vá consciente, sabendo que não será fácil. Se for ilegal, vai passar por poucas e boas, vai trabalhar duro! As vezes se sujeitar à trabalhos que não exercia no Brasil. Vá principalmente sem confiar em contos de fada, leva seu dinheiro porque assim você terá para onde ir, caso algo dê errado.
A melhor experiência que viveu no país?
Quando sai do meu trabalho escravo na fábrica de salsicha (citado). Trabalhava lá de 12 a 14 horas por dia. Comecei a passear e conhecer lugares, fazer amizades. Quando fui conhecer o Santuário de Fátima, foi uma experiência linda. Conheci Algarve a cidade turística mais famosa de Portugal, só tem placas em inglês e francês, com turísticas americanos, me senti importante.
Continua após a propaganda
Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteias (SEF),
em 2020, o número de brasileiros morando em Portugal, quadriplicou, chegando em 183.993, em situação legal no país.
Apesar da língua oficial ser o português, há algumas diferenças no significado. Mauriceia nos enviou um pequeno dicionário com algumas palavras que sofrem alteração.
Água fresca = água gelada
Água natural = água sem gelo
Bica = cafezinho
Bitoque = PF (carne, arroz, batata e salada)
Bifana = sanduíche com carne de porco
Bola de Berlim = sonho com creme
Borrego = carne de ovelha jovem
Cacete = pãozinho
Cachorro = cachorro quente
Carne picada = carne moída
Chavena = Xícara
Cola = Coca-cola
Dióspiro = caqui
Empregado de mesa = garçom
Ementa = cardápio
Esplanada - cafés com mesas na rua
Esparregado - creme de espinafres
Fiambre = presunto
Fumado = defumado
Galão = café com leite no copo
Pastelaria = bar ou padaria
Pastel = doce ou bolinho
Pequeno almoço = café da manhã
Pimentos = pimentão
Piri-piri = pimenta forte
Prego = Pão com carne
Restauração = referente a restaurantes
Rissol = rissole
Sandes = sanduíche
Sumo = suco
Tabuleiro = bandeja
Tapas = petisco
Tartes = tortas
Torta = rocambole
Gambas = espécie de camarão
Torta mista = misto quente
Gelado = sorvete
Grelo = tipo de verdura portuguesa
Imperial (Lisboa), fino (Porto) = chope
Natas = creme de leite
Palhinha = canudinho
Panado = empanado
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